Quem já fez um piercing, tatuagem ou até mesmo uma cirurgia sem a necessidade de ficar internado depois sabe das recomendações passadas pelos profissionais e sempre se vê às voltas com o dilema do que se pode ou não comer.
De fato, existem alimentos que podem atrapalhar a cicatrização e outros que podem ajudar no processo, mas o que mais existe acerca desse tema são os mitos e costumes populares que acabam levados a sério, sem entendermos o por quê de tantas proibições.
Não há dúvidas de que alimentos muito gordurosos ou industrializados podem ser prejudiciais à saúde, causando problemas de colesterol, hipertensão etc. No caso dos alimentos industrializados o maior problema está na presença de grandes quantidades de sódio, um mineral que promove o inchaço – algo que queremos evitar em qualquer ferida.
Muitos já devem ter ouvido falar também dos alimentos remosos, uma presença constante nas listas de “o que evitar” entregues pelos estúdios de tattoo. Mas aí nos deparamos com um problema: o que diabo são alimentos remosos? Na sabedoria popular, os alimentos remosos (ou reimosos) seriam simplesmente os que apresentam elevada concentração de proteína e gordura animal.
Esse termo, mais utilizado no norte e no nordeste do país, diz respeito a animais que apresentam uma fase alimentar associada ao consumo de alimentos em decomposição, que normalmente apresentam grande quantidade de decompositores, como as bactérias. A preparação desses alimentos, mesmo quando bem cozidos, pode levar à destruição das bactérias, porém, não a de suas toxinas, em geral resistentes ao cozimento.
Contudo, procurando em artigos de medicina, percebemos que ainda não há um consenso sobre o quão prejudicial o consumo dos alimentos remosos pode ser para o indivíduo saudável.
Aparentemente, o efeito negativo desse tipo de comida está associado a ocasiões em que a pessoa já se encontra, de alguma forma, vulnerável, como durante a menstruação, puerpério (o período pós-parto), distúrbios intestinais, ferimentos (incluindo, aí, a tatuagem), reações alérgicas ou expectoração. Nesses períodos, acredita-se que alimentos remosos poderiam agravar o estado em si, provocando inflamação ou intoxicação. Porém, é importante frisar que ainda não há estudos comprobatórios dos efeitos de tais alimentos!
Algumas comidas sabidamente atrapalham a cicatrização por motivos específicos, dentre elas podemos listar:
o camarão, que apresenta quitosana, uma substância que favorece a inflamação da pele;
a carne de porco, que pode elevar perigosamente a produção de colágeno, favorecendo a hipercicatrização e, portanto, a formação de queloides – mas comê-la em pouca quantidade e sem gordura pode ser até benéfico;
pimentas em geral, que podem aumentar a circulação do sangue nas artérias, o que, como a carne de porco, pode ser prejudicial se houver consumo exagerado;
o abacate, que possui substâncias que diminuem a ação da colagenase, enzima que destrói o colágeno – o efeito, aqui, pode ser o de desequilibrar a fabricação e quebra do colágeno, podendo levar, também, à formação de queloides.
Na dúvida, o melhor é evitar tudo aquilo que possa nos trazer problemas e priorizar o que sabemos que pode ajudar na cicatrização:
a vitamina C é fundamental para a formação adequada do colágeno e pode ser encontrada em frutas diversas, principalmente as de cor amarela ou alaranjada;
castanhas, nozes e outros grãos são fonte de zinco, um regulador do colágeno, e possuem gorduras benéficas, com poderes anti-inflamatórios;
peixes e carnes magras contêm proteína e também incentivam a formação do colágeno, além de, no caso dos peixes, haver o famoso ômega-3, uma gordura que ajuda a evitar inflamações – porém, ela também não deve ser consumida em excesso;
vegetais arroxeados como a berinjela, a beterraba e até a cereja possuem antocianina, um poderoso antioxidante que age na pele;
o gengibre tem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e melhora a circulação.
A moral da história é a de sempre: devemos evitar os excessos e manter uma dieta moderada e, preferencialmente, variada. Se você tem, no dia-a-dia, uma alimentação adequada, não há com o que se preocupar durante o período de cicatrização da sua tattoo ou piercing.
Mas se você é daqueles acostumados a comer produtos industrializados, empacotados e enlatados e sempre que prepara sua comida vai logo colocando bastante sal, pode saber que seu processo de cicatrização não será dos melhores, e isso serve tanto para quando você for fazer uma tatuagem quanto para quando precisar enfrentar o bisturi!
E comer bem não é a única coisa que garantirá a “saúde” da sua tatuagem – são todos os cuidados adequados, seguidos rigorosamente, que trarão o resultado final. Não aceite qualquer dica de alguém que não seja profissional e tenha em mente, ainda, que cada organismo é diferente e cada um tem suas peculiaridades. Uma pessoa ter muitas tatuagens não significa que ela entenda bem do processo, muito menos que ela tenha estudado para ter as tatuagens – essa obrigação é do tatuador*!
Basta ter um pouco de bom senso e generosidade com nosso organismo; se algo não é bom para o seu corpo normalmente, é claro que ele não será bom durante um período de recuperação também!
Fonte: Tattootatuagem