Que atire a primeira pedra a pessoa com uma hannya tatuada que nunca recebeu um olhar torto ou uma acusação de tatuar o diabo! Afinal, chifres, dentes pontiagudos, olhos brilhantes e feições exóticas não costumam atrair a simpatia das pessoas…
Tudo bem, hannyas também podem ter, historicamente falando, ligação com sentimentos ruins, algo não tão favorável à sua imagem. Mas está longe de ser uma afronta a religiões que consideram seres chifrudos aberrações demoníacas que representam ameaças à humanidade.
Afinal, o que são hannyas?
Como qualquer elemento histórico, há diversas variações e explicações.
Para o teatro clássico Noh, do Japão do século XIV, hannyas são um dos tipos de máscaras que representam diferentes humores e identidades das personagens (sim, mulheres). As máscaras, sempre exóticas, continham diversas cores, cada qual com o seu significado (vale dar uma olhada nesse site, que fala de todos os tipos de máscaras usadas pelo teatro clássico japonês). São desenhos dessas máscaras que as pessoas tatuam.
Quanto aos ‘demônios’, fala-se que, no budismo japonês, hannyas equivaleriam aos intensos e confusos sentimentos humanos, como o ódio, o ciúme, a tristeza, a paixão e o amor, que, em excesso, poderiam transformar as pessoas nessas criaturas. Nota-se, então, a ligação do termo com as máscaras do teatro Noh.
Mas não, a origem do termo ‘Hannya’ não é o teatro Noh. Antes de cair nas graças da cultura teatral, ele já apresentava um contexto mais filosófico. É a transcrição japonesa do termo sânscrito ‘Prajna’, que, no budismo, significa ‘Sabedoria’. Esse é o tema central do ‘Sutra do Coração da Perfeição da Sabedoria’, ou, em japonês, ‘Hannya Shingyo’. O termo remeteria a uma virtude de Buda e representaria, entre outras coisas, equilíbrio.
Tatuagem de Hannya
Com a mistura de significados, muitos passaram a ver hannyas como amuletos contra maus agouros, sentimentos negativos dos outros e nossos próprios demônios. Ao invés de estimular o mal de outrem, elas resguardariam os portadores da imagem.
Levando em conta o termo ‘Prajna’, a definição de ‘Hannya’ poderia referir-se à necessidade de os fazedores de máscaras precisarem de sabedoria para produzir um artefato que abrisse os olhos das pessoas para a realidade. Diz-se também que tal nome foi dado em homenagem ao monge Hannya-bô, que aperfeiçoou a criação das máscaras.
De qualquer maneira, não há elementos demoníacos, na concepção ocidental de diabo e inferno, nas hannyas. Podemos, basicamente, falar em demônios orientais provenientes de sentimentos exacerbados e, também, totalmente oposto ao significado anterior, em símbolos de proteção.
Viu só? Nada de exorcizar os tatuados!
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